Durante muito tempo, acreditei que o ciclo menstrual era só o período em que o meu sangue descia. Só que o corpo feminino não funciona em um botão de liga e desliga, ele é um fluxo constante de mudanças. Quando a gente começa a entender isso, tudo muda: a forma como se olha no espelho, como organiza o trabalho, como se acolhe nos dias de cansaço e até como se reconcilia com o próprio corpo.
Biologicamente, o ciclo menstrual é o processo natural em que o corpo se prepara todos os meses para uma possível gestação. Ele é composto por quatro fases que se repetem, em média, a cada 28 dias (a mesma duração do ciclo lunar). Mas, para além da biologia, ele é também um ciclo de energia, emoções e autoconhecimento. Cada fase tem uma inteligência própria, e quando aprendemos a reconhecer seus sinais, conseguimos viver com mais presença e menos culpa.

1. A fase menstrual: a nossa fase reflexiva. É o momento em que o corpo solta o que não precisa mais. O útero elimina o revestimento que se formou e, junto com o sangue, vem um convite simbólico: desacelerar, recolher-se, silenciar. Dar espaço para que a limpeza física e energética aconteça. Fisicamente, os hormônios estão em queda, o que pode gerar cansaço e introspecção. Mas é justamente aqui que mora a sabedoria: é tempo de limpar, descansar e ouvir o corpo. Na natureza, tudo que floresce também passa por um tempo de pausa e com nós mulheres é a mesma coisa.
2. A fase pré-ovulatória: a nossa fase dinâmica. Depois que o sangue cessa, o corpo renasce. O estrogênio começa a subir, e com ele vem a energia da ação, da leveza e da criatividade. É como se uma nova luz acendesse dentro de nós. Esse é o período em que o corpo se sente mais forte e disposto, ideal para iniciar projetos, organizar a rotina e experimentar coisas novas. Na linguagem simbólica, é a fase da Donzela, ligada à lua crescente: curiosa, ativa, cheia de vitalidade.
3. A ovulação: a nossa fase expressiva. Quando o óvulo é liberado, o corpo atinge seu auge de fertilidade. O estrogênio está no pico, a pele brilha, a comunicação flui e a energia se volta para o outro. É uma fase naturalmente voltada para nutrir, acolher e compartilhar, não apenas filhos, mas ideias, conexões e amor. É o momento da Mãe interna, associada à lua cheia, símbolo da abundância e da plenitude.
4. A fase pré-menstrual: a nossa fase criativa. Depois da ovulação, o corpo se prepara novamente para liberar o que não se concretizou. Os hormônios começam a cair, e com isso pode surgir irritação, sensibilidade e vontade de ficar mais sozinha. Mas esse não é um período “ruim”, é um tempo de percepção aguçada de criatividade elevada. A mente fica mais intuitiva e analítica, pronta para reconhecer o que precisa ser transformado. É a fase da Feiticeira, que antecede a menstruação e ensina sobre limites e verdade.

O ciclo menstrual é, portanto, um movimento completo de nascimento, expansão, recolhimento e renovação. Quando o vivemos de forma consciente, deixamos de nos forçar a ser lineares em um corpo que é, por natureza, cíclico.
Aprender a observar essas fases é o primeiro passo para resgatar uma relação saudável com o próprio corpo. É entender que não somos voláteis, somos vivas.
Talvez, pela primeira vez, você descubra que o seu ciclo não é um inimigo a ser controlado, mas um ritmo a ser honrado, que ele é, na verdade, o compasso natural da mulher que aprende a viver no seu próprio tempo.
Com carinho, Lívia C. Formaggio